Conto: O Trem dos Vivos


   Todas as manhãs, mais ou menos pelas nove horas, a jovem Malu chegava à estação ferroviária que havia próximo a sua casa. Todos os funcionários, que ali na estação trabalhavam, conheciam a Jovem que sentada no velho banco da estação assistia o dia inteiro a partida de todos os trens, mas apenas assistia sentada, não se levantava e tampouco entrava em uns dos trens.

     O dia de Malu nunca não era o mesmo se ela não fosse à antiga estação. Estação da qual foi cenário para dolorosas despedidas na vida da jovem. Quase todos os amigos de Malu entraram no trem, ela, porém preferiu ficar na pequena cidade que foi palco dos melhores momentos de sua vida. Todos bons momentos da vida Malu e também os momentos ruins reviviam em suas lembranças naquele banco de estação, e ela não conseguia abrir mão daquilo e daqueles que a fez tão feliz, por isso preferiu ficar, não teve coragem de abandonar o palco de inúmeras felicidades; tinha medo de que momentos como aquele não se repetisse.
     Entrar no trem significava para Malu abandonar toda sua vida, abandonar tudo que viveu, ela se sentia presa aos bons momentos que vivera, no entanto não era feliz ali, mas não queria arriscar, optou por não enterrar a realidade morta, não deixou nascer outra realidade, uma realidade viva.
     Assim se passaram os anos e Malu continuou a contemplar o passado, e os cadáveres de sua lembrança continuou a visitá-la. A jovem não entrou no trem e nem podia mais entrar, pois a velha estação foi desativada, o que impossibilitou as visitas; tudo mudou, mas Malu continuava a viver com os fantasmas do passado.
    Malu fechou a porta do tempo, se apegou com o passado e teve sua vida estagnada, tudo isso por que lhe faltou vontade de conhecer o novo, faltou coragem para abrir mão da vida que não lhe pertencia, não enxergou que para nascer uma nova vida deve-se enterrar a vida que morreu.

Autor: Wélio Meireles

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